sexta-feira, 22 de julho de 2011

ROTEIRO SOBRE A SEMANA DE ARTE MODERNA

Autoria: Belinha; do blog Estação da palavra

PERSONAGENS:

  • Narrador
  • Oswald de Andrade
  • Mário de Andrade
  • Menotti Del Picchia

Narrador: os poetas Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia conversam sobre o atual estágio da literatura brasileira.

Oswald de Andrade: Mário, estive na Europa há pouco tempo atrás e lá vi coisas incríveis. Os intelectuais se reúnem formando movimentos vanguardistas e lançam manifestos nos jornais. Eles estão fazendo uma arte mais livre, na qual o artista não se prende a amarras da rima, do metro e do soneto. Pelo contrário, escrevem o que querem e agitam o meio com ideias inovadoras.

Mário de Andrade: Também ouvi falar nessas mudanças. São uns nomes esquisitos: futurismo, cubismo, uma porção de “ismos”. Mas lá, as novidades surgem primeiro. A Europa sempre está à nossa frente em tudo.

Menotti Del Picchia: Mas podemos mudar isto! É só reunirmos uma pequena parcela de artistas como nós e criarmos também um movimento aqui no Brasil. Já pensou? Poderíamos divulgá-lo nos jornais.

Mário de Andrade: Detesto a arte parnasiana. Escrevi uma série de artigos contra os parnasianos no jornal. Como é que se pode achar bonito um poema vazio, sem ideia, sem alma, só porque foi escrito por fulano de tal? Olavo Bilac que me perdoe, ele pode ser o príncipe dos poetas para o povo, mas para mim, não.

Narrador: Os três poetas discutem e planejam formas de arejar o parado meio artístico brasileiro. Publicam artigos nos jornais paulistas, mas se acham sem muito prestígio para inaugurar o movimento. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, os artistas também pensam na mesma ideia de renovação, como é o caso de Anita Malfatti e do escultor Victor Brecheret. Eles ganham bolsa para estudar no exterior e lá, entram em contato com as estranhas vanguardas europeias. Voltam maravilhados e se põem a imitar o que viram, importando as técnicas cubistas e futuristas.
Mas apesar de tanto desenvolvimento econômico, São Paulo ainda era um lugar provinciano nos costumes e, por isso, as telas de Anita provocaram um verdadeiro escândalo. As imagens eram distorcidas e as pessoas consideravam-nas aberrações sem nexo ou meras caricaturas. Monteiro Lobato publicou um furioso artigo no jornal “O Estado de São Paulo”, atacando a pintura da pobre pintora!

Menotti Del Picchia: Gente, olha só o que Monteiro Lobato escreveu no jornal a respeito das pinturas de Anita Malfatti (lendo o jornal):
“Seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna, penetrou nos domínios de um impressionismo discutibilíssimo, e põe todo o seu trabalho a serviço de uma nova espécie de caricatura. Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, expressionismo, não passam de outros tantos ramos da arte caricatural. Caricatura que não visa ressaltar uma ideia cômica, mas sim, desnortear, aparvalhar o espectador”.

Mário: Lobato não entende nada de arte moderna. Pinta umas bobagens na sua fazenda e até escreve bem, mas está totalmente deslocado do que acontece pelo mundo. A pintura de Anita é uma verdadeira obra prima. Imagine só, 53 trabalhos! Que talento!

Oswald: É culpa do atraso cultural em que vivemos. Comigo aconteceu a mesma coisa. Eu escrevi o poema “último passeio de um tuberculoso, pela cidade, de bonde” e só não fizeram me matar. Todo mundo criticou, acharam horrível, daí eu preferi dá sumiço no poema.

Narrador: Em 09 de janeiro de 1921, os intelectuais se reúnem no TRIANON para prestar uma homenagem a Menotti Del Picchia pela publicação de seu livro “Máscaras”:

Oswald: viemos trazer-lhe nossa humilde homenagem. Mas cada vez conscientizo-me de que é preciso reagir. É preciso esfacelarem-se os velhos moldes literários, reformarem a técnica, arejar-se o pensamento surrado no eterno uso das mesmas metáforas. A vida não para e arte é vida. Mostremos, afinal, que no Brasil não somos um montão inerte e inútil de cadáveres.

Os três poetas gritam:

VIVA A ARTE MODERNA!!!

Narrador: no ano seguinte, ocorreria a Semana de Arte Moderna, golpeando de vez a literatura do passado. A Semana só foi possível graças ao apoio incondicional de políticos, empresários e latifundiários paulistas, que saboreavam a ideia de sacudir o caipirismo de onde viviam. Outro fator importante foi a adesão de Graça Aranha ao movimento. Com o prestígio de seu nome, atraiu as pessoas ao Teatro Municipal e, assim, foi padrinho do movimento.

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