quinta-feira, 21 de abril de 2011

MÁRIO QUINTANA


Por: Belinha

Dono de uma poesia marcada por uma aparente simplicidade, Mário Quintana fez poemas que encantam pela delicadeza das metáforas  (os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde) ou pelo deboche (  Mas se a vida é tão curta como dizes porque que é que me estás lendo até agora?).

O poder de síntese da poesia encontra uma de suas melhores expressões em Mário Quintana. Com apenas um verso, ele dava conta de seu recado poético:

O pior
O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.

Nem a morte escapou de sua cômica ironia:
Libertação   

A morte é a libertação total:
A morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapato

O conteúdo de seus poemas destilam uma sabedoria proverbial:
Da discrição    
Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...


Usa indagações como modo indireto de afirmar o trágico da vida:

Exame de consciência    
Se eu amo o meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?
A natureza comparece em sua poesia como parte de seu processo de interiorização:

No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...


O amor pela poesia é registrado em muitos poemas metalinguísticos:

....basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira. (...)


Sua poética confessional é uma forma de exprimir a beleza das pequenas coisas que passam despercebidas pelo olhar da maioria:

“Eu comecei a escrever desde que comecei a me entender por gente. A poesia não deixa de ser uma forma de falar sozinho, porque havia assuntos que eu não podia meter em conversa. Coisas que me impressionavam, como uma nuança no muro; o reflexo dos lampiões, de noite, nas poças d’água; uma nuvenzinha que tinha ficado parada lá no céu perdida das outras; coisas assim. Isso eu não podia falar numa conversa, porque iam pensar que eu estava maluco. Esse é o assunto dos meus poemas.” ( entrevista a Patrícia Bins)

Para ele, o poema tinha que ter música, sonoridade, por isso definiu uma floresta como “um dédalo de dedos”.

Também não procurava fazer da poesia um veículo sério de combate a ideologias ou um panfleto de novas ideias, muito ao contrário, a não obrigatoriedade de uma função para a poesia a tornava mais especial: “

O trágico dilema

Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.

Em Quintana, não há nenhum apego à religiosidade. Sua religião era o sonho, a capacidade de viajar na imaginação:

Da inquieta esperança

Bem sabes Tu, Senhor, que o bem melhor é aquele
Que não passa, talvez, de um desejo ilusório.
Nunca me dê o Céu... quero é sonhar com ele
Na inquietação feliz do Purgatório.

Uma poesia contra arroubos sentimentais, a favor da discrição, da moderação, sempre contra o espalhafatoso, porém, sem prejuízo de uma intensidade íntima:

BILHETE

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Mário Quintana no vestibular: Vestibular da PUCRS 2011

INSTRUÇÃO: Para responder à questão 40, ler o poema “Magias”, de Mário Quintana, e as afirmativas.

Os antigos retratos de parede
Não conseguem ficar por longo tempo abstratos.
Às vezes os seus olhos te fitam, obstinados.
Porque eles nunca se desumanizam de todo.
Jamais te voltes para trás de repente:
Poderias pegá-los em flagrante.
Não, não olhes nunca!
O melhor é cantares cantigas loucas e sem fim...
Sem fim e sem sentido...
Dessas que a gente inventava para enganar a solidão
[dos caminhos sem lua.

Neste poema, os retratos antigos

I. buscam uma espécie de diálogo com o observador,
porque nunca perdem a sua humanidade.
II. mesmo pendurados na parede, parecem ter vida
própria.
III. simbolizam um passado fantasmagórico que pode
continuar aterrorizando, por isso devem ser olhados
com cautela.
40) A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são:
A) I, apenas.
B) II, apenas.
C) III, apenas.
D) I e III, apenas.
E) I, II e III.

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