quarta-feira, 16 de março de 2011

ROTEIRO DE PEÇA: "INOCÊNCIA", DE VISCONDE DE TAUNAY

ROTEIRO DE INOCÊNCIA (exemplo de roteiro)

PERSONAGENS:

1.CIRINO
2.INOCÊNCIA
3.MANECÃO ( noivo de Inocência)
4.SEU PEREIRA (pai de Inocência)
5.TICO
6.PADRINHO DE INOCÊNCIA
7.MEYER
8.AUXILIAR DE MEYER
9.NARRADOR

CENA 1: ENCONTRO DE CIRINO COM SEU PEREIRA

Pereira: __Olá, patrício, vai indo pra onde?

Cirino: Não tenho destino certo, ando por esses sertões curando maleitas e feridas brabas.

Pereira: Ah, então vosmecê é doutor, não é? Ora pois, isso me cai bem, estou com uma menina doente de maleitas, minha filha.

Cirino: Tenho muito remédio para maleita na minha mala. Tem um é infalível contra maleita.

Pereira: Home, lhe pago como se deve, então venha pra minha casa. Seu...

Cirino: Cirino.

Pereira: me chamo Pereira e  mercê caiu foi do céu.

CENA 2: CURA DE INOCÊNCIA

Pereira:  O doutor se abanque, que vou ver minha filha Inocência. ( vai até o quarto).

Doutor, pode mercê entrar e ver a pequena. (puxa Cirino antes dele entrar). Sr. Cirino, tenho um defeito, sou muito desconfiado, vai o doutor entrar no interior da minha casa e deve se portar como...

Cirino: Oh, seu Pereira, posso me gabar de ter sido recebido no seio de muita gente de família honesta e sei proceder direito, como devo.

Pereira: Vejo que o senhor não é nenhum pé-rapado, mas não é bom facilitar. É difícil criar uma moça, por isso tratei logo de casá-la.

Cirino: É casada, então?

Pereira: Não, mas está apalavrada. Vou casá-la com o Manecão. Home direito, trabucador, desempenado.   __Inocência, está aqui o doutro Cirino, que vem te curar.

Cirino: Boa-noite, dona.  ( tira o pulso da moça e depois observa-lhe um lenço amarrado na cabeça). Por que amarrou este lenço na cabeça?

Inocência: Por nada não senhor.

Cirino: tire-o, convém não chamar o sangue.

( Inocência tira o lenço, soltando os fartos cabelos e ele fica imóvel, de boca aberta, hipnotizado com sua beleza)

Pereira: doutor, o remédio... o remédio...

Cirino: Ah! (voltando à realidade) ela deve tomar isso aqui a cada oito horas e fazer um regime de ovos e leite.

Pereira: pode deixar comigo, doutor.

Cirino vai se virando do quarto e se assusta ao ver o anão Tico.

Pereira: É o Tico, ele é pequeno, mas é bom. Ele não pode falar, lhe cortaram a língua, mas ele ouve tudo o que a gente diz. Tico, vigie Inocência.

Cirino: Tenho de ir embora agora.

Pereira: Não fique, pelo menos até Inocência ficar completamente curada. Isso aqui é sertão brabo, o senhor pode até se perder. Quando Inocência tiver boa, eu mesmo levo o senhor até a casa de uns conhecidos meus e senhor vai sair daqui bem mais fornido de dinheiro e eles vão ficar contentes porque não tem médico nessas bandas.

CENA 3:  CHEGADA DE MEYER
Meyer: Ó de casa, ó de casa....
Pereira: quem é?
Meyer: amigo, sou cientista, procuro por borboletas raras nessas regiões. Será que o senhor pode dar um rancho por esta noite?
Pereira: barbuletas? De que serventia tem as barbuletas?
Auxiliar de Meyer: meu chefe é cientista famosa lá na Europa. Ele veio aqui descobrir espécies novas de borboletas.
Pereira: Que doidice, nunca vi falar que barbuleta fosse importante para alguma coisa. Mas entrem, se arranchem.
Meyer: obrigado. Eu também tenho trouxe umas cartas que as pessoas desse sertão me deram para eu distribuir  para os parentes distantes. Veja se me ajuda a localizar o destinatário de algumas delas.
Pereira: me adesculpe, eu não sei ler.
Meyer: (embaralha as cartas citando seu nomes): carta para Valadão, para Tebaldo, Pereira do Mourão...
Pereira: sou eu! Quem se alembrou de mim?
Meyer: Fastino Pereira.
Pereira: Gente, é uma carta do meu irmão Faustino. Faz dez anos que não vejo o safado. Abençoado seja o senhor, porque o senhor não sabe a alegria que me deu. Seu Meyer juro que o senhor será tratado como o dono da casa. Jamais essa mão ou essa boca vão ofendê-lo. O senhor é dono da casa, ouviu? O dono desta casa.

Meyer vê Inocência, que fica tímida ao vê-lo, se escorando na parede e baixando a cabeça..
Meyer: Nossa, que donzela linda. Que flor do sertão. É uma Vênus ressuscitada.

Pereira: Inocência, já para seu quarto. (grita)

Meyer vai deitar.
Pereira para Cirino:  doutor Cirino, eu não gostei do jeito dele falar com Nocência. Eu só num mato esse canalha, porque dei minha palavra agora há pouco, mas vou ficar vigiando. Eu num crio moça donzela para ser apelidada até de coisas imorais...
Cirino: Vênus é a deusa dos antigos romanos, seu Pereira.
Pereira: Tá vendo, nem cristão não é.

CENA 4:
Cirino acorda Inocência de noite e conversa com ela enquanto Tico escondido vê tudo.
Cirino: Inocência, acorda. Inocência.... ( ela acorda vai até ele)
Cirino: Oh, Inocência, eu tem amo, tenha pena de mim. Eu morro por sua causa.
Inocência: que mecê vem fazer aqui? Eu já estou boa.
Cirino: mas eu estou doente agora. Sou eu que vou morrer porque você me enfeitiçou.
Inocência: ué, então amor é sofrimento?
Cirino: amor é sofrimento quando a gente não sabe se é aceito.
Inocência: e o que é que a gente sente?
Cirino: a gente sente uma dor cá dentro, parece que vai morrer. Só se pensa na pessoa  a quem se quer, todas as horas do dia ou da noite.
Inocência: então eu amo.
Cirino: a quem?
Inocência: a quem me ama.
Cirino: você me ama, inocência, você me ama. Vamos casar então.
Inocência: meu pai é brabo e já deu a palavra que me casava com o Manecão. Ele nunca volta a palavra dele. E se você insistir o Manecão te mata.
Cirino: então vamos fugir.
Inocência: não, vão nos perseguir até nos achar. E mesmo assim meu pai vai me amaldiçoar e eu não quero ser amaldiçoada não.
Cirino: então eu vou me matar.
Inocência: vai se matar por mim? Como?
Cirino: não falta água para eu me afogar nem pau para eu me enforcar.
Inocência: não, isso não. Espere. Eu tenho um padrinho que meu pai escuta muito o que ele diz. Se ele aconselhasse meu pai a me casar com você e não com Manecao, podia dar certo. Ele mora na fazenda pau d’Arco.
Cirino: Vou até lá, meu amor ( beijam-se e Tico vê).

CENA 5: Meyer vai embora.
Meyer: obrigado por tudo, seu pereira. Estou indo embora para a Alemanha, minha terra. Nunca me esquecerei do senhor e da sua linda filha.
Pereira: vá com Deus, homem.

CENA 6: Inocência enfrenta o pai.

Inocência: pai, eu não quero me casar com o Manecão.
Pereira: Ta de miolo mole, quem foi que te virou a cabeça?
Inocência: eu amo outro..
Pereira dá um tapa nela: desgraçada, tu vai casar nem que eu te amarre. Eu já sei foi aquele Meyer. Eu acabo com raça dele.

( manecão chega)

Manecão: o que aconteceu?
Pereira: precisamos acabar com a raça de doutor estrangeiro que desonrou a menina Inocência.
Manecao: vou matar esse cabra agora mesmo.
Tico gesticula.
Manecao: hem, não é ele? é quem?
Tico gesticula...
Pereira: ele ta dizendo que é o Cirino.
Manecao: quem é Cirino?
Pereira: um cachorro que pus na minha casa.
Manecao: cadê ele?

Tico gesticula.
Manecao: na fazendo do padrinho de inocência? Vou lá acabar com a raça desse sujeito.
Pereira: vai, lava a honra do meu nome e da minha pobre filha.


CENA 7: CIRINO DIANTE DO PADRINHO DE INOCÊNCIA

Cirino: o senhor é o padrinho de Inocência. Meu nome é Cirino. Eu amo sua afilhada. E ela me ama também. A gente quer se casar. Mas a gente precisa que senhor fale com seu Pereira e nos ajude a convecer ele de acabar o noivado dela com o manecão.

Compadre: o senhor mexeu com a menina?
Cirino: não, juro por Deus.
Compadre: o Pereira é teimoso porque é homem de palavra. E eu não quero fazer desfeita pro meu compadre por causa de um desconhecido. Mas vou pensar no caso. Me espere la na estrada. Se eu aparecer, é porque vou ajudar vocês. Se eu não aparecer, é porque resolvi não me meter.
Cirino: obrigado, o senhor é um homem bom, haverá  de ficar do nosso lado.


CENA 8: MANECÃO MATA CIRINO NA ESTRADA

Manecão: vossa mercê é Cirino?
Cirino: nhor, sim.
Manecão: é um ladrão, um cachorro.
Cirino: mas quem é o senhor?
Manecão: não me conhece? Não conhece Inocência? ( atira em Cirino)
Cirino: matador, vil, infame!!! Me mataste!!! Deus te amaldiçoe. Oh, devo sair dessa vida como cristão, hei de perdoar. Eu te perdôo.
Manecão: eu não preciso de teu perdão.
Cirino: inocência, INOCENCIA !!!!!!!!!!!!!!!!!(grita)

Manecão foge.


CENA 9:  A MORTE DE INOCÊNCIA

Inocência sente a cabeça doer e cai no chão.
Pereira: inocência, Inocência!....morreu!

CENA 10: MEYER APRESENTA SUA DESCOBERTA

Meyer: dou a esta borboleta o nome de papilo inocentia. É uma homenagem a uma linda donzela que conheci no sertão do Brasil.

Narrador: enquanto Meyer apresentava ao mundo sua descoberta. Inocência, no sertão, dormia o sono da eternidade.

Narrador: CONCLUSÃO: Esta peça mostra que o amor romântico, para ter sua realização, enfrenta muitos sofrimentos e obstáculos, culminando as vezes de forma trágica. No entanto, o amor vence a tudo e a todos, inclusive a morte, pois mesmo morrendo, as personagens esperam continuar seu amor se encontrando no além. Inocência se conservou pura até a morte, fiel a Cirino e este, como bom cristão, morre perdoando o inimigo e clamando pela amada. A essência do Romantismo é essa: lágrimas, religiosidade, desejo, heroísmo e a crença de que existe um amor verdadeiro para cada pessoa, bastando encontrá-lo e lutar por ele. Essa esperança de que o amor existe e vale a pena é uma herança do romantismo e mostra sua permanência em uma parte de cada um de nós.








Um comentário:

  1. Obrigada, esse roteiro me ajudou bastante e tenho certeza que ajudou e ainda ajudará muitas pessoas. Beijos

    ResponderExcluir