sexta-feira, 18 de março de 2011

REFLEXÕES SOBRE O ADJETIVO

 REFLEXÕES SOBRE O ADJETIVO

Para Carmen Javaloyes, a principal diferença formal entre substantivo e adjetivo é que este não admite artigo, mas admite grau. Dessa forma, em “A bela noiva não conteve as lágrimas”, o artigo definido que antecede o adjetivo bela, refere-se ao termo “noiva”,  não ao termo “bela”. E ele está no feminino porque o adjetivo é dependente do substantivo, por isso concorda com ele. Obviamente o adjetivo também pode ser substantivado, o que ocorre na frase de José de Alencar: “Tem nas faces o branco da areia”. Note que nesse caso, o artigo realmente refere-se a “branco” porque tal palavra está funcionando como substantivo.
Por outro lado, assim como os substantivos, os adjetivos admitem grau. Poderíamos destacar a beleza da noiva dizendo “A belíssima noiva não conteve as lágrimas”. Estaríamos elevando essa beleza ao grau máximo, o chamado superlativo absoluto sintético. Por que sintético? Porque haveria uma outra forma de destacar sua beleza: “A noiva, que estava muito bela, não conteve as lágrimas”. Estaríamos usando agora uma expressão (“muito bela”) para dar conta do mesmo sentido (muito bela = belíssima). Todavia, nem todo adjetivo admite grau. De outro modo, adianta dizer que alguém está “mortíssimo”, “muito morto”, “menos morto”? ou está morto ou não está. A não ser que se esteja usando a linguagem literariamente, uma vez que nesta, as normais habituais podem ser abolidas em favor do estilo.
Carmem Javaloyes destaca a importância da posição do adjetivo, explicando que o adjetivo anteposto ao substantivo vai insistir nas qualidades do substantivo, ou seja, vai realçar uma de suas qualidades. Assim em “refrescante bebida”, das muitas qualidades que possui uma bebida ( doce, cítrica, de certa cor...) se fez referência a apenas uma delas. Já o adjetivo posposto ao substantivo, realça a qualidade apenas de forma acidental, não de forma essencial ( “bebida refrescante”).  

Refrescante bebida
Bebida refrescante  

Observe que quando anteposto ao substantivo, o adjetivo chama atenção para si mesmo, realçando a qualidade da bebida.  Posposto, o substantivo é quem governa a atenção da frase. Nos dois casos, entretanto, a função do adjetivo é a mesma: complementar o substantivo. Mas para um escritor, é de fundamental importância levar essas nuanças em consideração, pois a mudança na ordem do adjetivo faz toda a diferença.

Às vezes mudar a posição do adjetivo vai além do realce aos atributos dos seres. A mudança pode acarretar novos sentidos à frase. É o caso das frases:
Amigo grande =  pessoa de grande estatura.
Grande amigo =  amigo muito próximo e importante.
Amigo caro = oneroso
Caro amigo = querido amigo
Amigo pobre = sem condições financeiras
Pobre amigo = coitado

Além do superlativo, o adjetivo possui grau comparativo. Os comparativos de tipo sintático são:
Superioridade: mais  + adjetivo  + que ( ...mais tímido que...)
Inferioridade: menos + adjetivo + que ( ...menos tímido que ...)
Igualdade: tão + adjetivo + quanto ( tão tímido quanto ...)

Carmen Javaloyes desaconselha o uso literário do grau comparativo: “O emprego desta forma com intenção literária demonstra um conhecimento de língua poética tão pobre como uma brincadeira de criança”.
Independentemente do grau, Carmem javloyes lembra que o abuso no emprego do adjetivo compromete estilisticamente texto.  Machado de Assis, o mestre de nossas letras, sabia disso por isso falou: “Os adjetivos passam, os substantivos ficam”.

Só para lembrar:

A gramática tradicional classifica os adjetivos de várias formas.

EXPLICATIVO - exprime qualidade própria do ser. Por exemplo, neve fria.
RESTRITIVO - exprime qualidade que não é própria do ser. Ex: fruta madura.
PRIMITIVO - não vem de outra palavra portuguesa. Por exemplo, bom e mau.
DERIVADO - tem origem em outra palavra portuguesa. Por exemplo, bondoso
SIMPLES - formado de um só radical. Por exemplo, brasileiro.
COMPOSTO - formado de mais de um radical. Por exemplo, franco-brasileiro.
PÁTRIO - é o adjetivo que indica a naturalidade ou a nacionalidade do ser. Por exemplo, brasileiro, cambuiense, etc.

E Mais Grande, Mais Bom e Mais Mau a língua só aceita quando se comparam qualidades de um mesmo ser:
Márcia é mais grande que pequena.
 José é mais bom do que mau




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