quinta-feira, 17 de março de 2011

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM MACHADO DE ASSIS

MACHADO DE ASSIS:  O MESTRE DAS LETRAS


MACHADO DE ASSIS concedeu uma “entrevista” para o meu blog -Estacãodapalavra 
( as respostas foram extraídas de romances, ensaios, artigos, crônicas, declarações de Machado na imprensa etc).

                         
Estação: Machado, qual o segredo de personagens tão bem construídas e de uma obra que atravessa séculos?
MACHADO: Eu gosto de catar o mínimo e o escondido. Onde ninguém mete o nariz, aí entra o meu, com a curiosidade estreita e aguda que descobre o encoberto. ( Gazeta de Notícias)

Estação: Mas como fazer para que as palavras brotem sobre o papel?
MACHADO: Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução.    ( Em “Histórias sem data”)

Estação: Existe alguma regra de ouro para escrever?
MACHADO: A primeira condição de quem escreve é não aborrecer. ( Diário do Rio de Janeiro)

Estação: Por que você optou por romances realistas, que abordam fatos, em vez de falar diretamente dos sentimentos, como os românticos?
MACHADO: Os fatos explicarão melhor os sentimentos: os fatos são tudo. Lágrimas não são argumentos.

Estação: Mas você se preocupa mais em analisar o lado psicológico das personagens do que falar dos fatos em si. Por quê?
MACHADO: Se a missão do romancista fosse copiar os fatos, tais quais ele se dão na vida, a arte era uma coisa inútil; a memória substituiria a imaginação. ( Crítica ao romance “O culto do dever”, de Joaquim Manuel de Macedo)

Estação: Os românticos tentaram retratar um mundo ideal, perfeito, o que você acha disso?
MACHADO: É melhor, muito melhor, contentar-se com a realidade; se ela não é tão brilhante como nos sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir.

Estação: Mas você também fez romances românticos. Há duas fases em sua obra: a romântica e a realista. O realismo foi a sua segunda maneira de escrever.
MACHADO: O que você chama de minha segunda maneira naturalmente me é mais aceita e cabal que a anterior, mas é doce achar quem se lembre desta, quem a penetre e desculpe, e até chegue a cata nela algumas raízes dos meus arbustos de hoje.  ( Carta a José Veríssimo)

Estação: O que devemos exigir de alguém para considerá-lo um bom escritor?
MACHADO: O que se deve exigir do escritor antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço. ( Revista “O novo mundo”)

Estação: Existe algum assunto especial a ser explorado pelos novos talentos?
MACHADO: O talento está em fazer de assuntos velhos assuntos novos _ ou pelas ideias ou pela forma. ( A Gazeta de Notícias)

Estação: Ao escrever, você prefere substantivos ou adjetivos?
MACHADO: Os adjetivos passam, os substantivos ficam. (Diário do Rio de Janeiro)

Estação: O que você tem contra os adjetivos?
MACHADO: O adjetivo foi introduzido nas línguas como uma imagem antecipada dos títulos honoríficos com que a civilização devia envergonhar os peitos nus e os nomes singelos dos heróis antigos.  (Diário do Rio de Janeiro)

Estação: Você se preocupa com a correção da linguagem?
MACHADO: Ora, eu não tenho outro desejo senão falar e escrever corretamente a minha língua; e se descubro que muita coisa que dizia até aqui não tem foros de cidade, mando este ofício à fava, e passo a falar por gestos.

Estação: Você gosta muito de brincar com provérbios... 
MACHADO: As frases feitas são a cooperativa do espírito.   ( Gazeta de Notícias)

Estação: O que você acha do dinheiro?
MACHADO: O dinheiro faz ouvir os surdos e ensurdecer os que ouvem bem.

Estação: Mas dizem que o dinheiro não traz felicidades...
MACHADO: O dinheiro não traz felicidade __ para quem não sabe o que fazer com ele.

Estação: Por que existe tanta desigualdade social?
MACHADO: O capital existe, se forma e sobrevive à custa da sociedade que trabalha e nem sempre é recompensada pelos lucros que gera.

Estação: O que fazer para conseguir o capital então?
MACHADO: Não precisa correr tanto, o que é seu às mãos lhe há de vir.

Estação: O que é o amor para você?
MACHADO: A melhor definição do amor não vale um beijo de moça namorada.  ( Em “O espelho”)

Estação: Por que em seus livros o amor não resulta em felicidade?
MACHADO: O amor não é mais que um instrumento de escolha; amar é eleger a criatura que há de ser a companheira na vida, não é afiançar a perpétua felicidade de duas pessoas, porque essa pode esvair-se ou corromper-se. 

Estação: Seu casamento é um exemplo de união que deu certo. Qual o segredo para manter um relacionamento?
MACHADO: Cada um sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que se saiba amar.

Estação: Machado, em que consiste a vida?
MACHADO: A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal.

Estação: Falando assim, você passa ideia de que a vida é uma grande luta...
MACHADO: A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal.

Estação: O que pensa sobre os autores que tentam imitar outros?
MACHADO: Quando a gente não pode imitar os grandes homens, imite ao menos as grandes ficções.    ( Em “A Semana”)

Estação: O olhar das personagens é algo muito valorizado em suas obras. Por quê?
MACHADO: As coisas têm o valor do aspecto, e o aspecto depende da retina.  ( “A Semana”)

Estação: Suas personagens possuem defeitos à maneira de seres humanos. Como devemos superar nossos defeitos?
MACHADO: Defeitos não fazem mal, quando há vontade e poder de os corrigir. ( Carta a Lúcio de Mendonça)

Estação: Mas é muito difícil perdoar um inimigo, por exemplo.
MACHADO: Não te irrites se te pagarem mal um benefício; antes cair das nuvens que de um terceiro andar.

Estação: Que conselho você daria para quem possui inimigos?
MACHADO: Creia em si, mas não duvides sempre dos outros.

Estação: Nas suas obras, os personagens parecem ser traídos pelos melhores amigos. O que é um amigo para você?
MACHADO: Não é amigo aquele que alardeia a amizade: é traficante; a amizade sente-se, não se diz.

Estação: Dizem que não devemos trocar um velho amigo por uma amizade nova. Você concorda?
MACHADO: Que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos.

Estação: Em Quincas Borba, o cão foi o único amigo de Rubião no momento da adversidade...
MACHADO: Felizes os cães, que pelo faro descobrem os amigos.

Estação: Sua obra tem despertado muitos elogios. Como você lida com isso? Gosta de receber esses elogios?
MACHADO: Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado.  ( Gazeta de Notícias)

Estação: Machado, o qual é função da arte?
MACHADO: De todas as coisas humanas, a única que tem um fim em sim mesma é a arte. ( Gazeta de Notícias)

Estação: O que você acha do cristianismo?
MACHADO: O cristianismo é bom para as mulheres e para os mendigos.

Estação: Mas você não considera importante a fé, o amor e a religião?
MACHADO: Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento.

Estação: Você sabe que muita gente defende sua fé com unhas e dentes...
MACHADO: Crer faz bem, crer é honesto. Quando o mal vier, se vier, dir-se-á mal dele. ( Gazeta de Notícias)

Estação: Por que você usou um epitáfio como primeira página de seu livro Memórias Póstumas de Brás Cubas.
MACHADO: Gosto dos epitáfios; eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra que passou.   (Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Estação: E por falar em Memórias Póstumas, como foi escrever essa história?
MACHADO: Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio.

Estação: Você fala muito da morte. Haveria alguma vantagem nela?
MACHADO: A grande vantagem da morte é que se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar.

Estação: Mas isso é muito triste...
MACHADO: Mas a tristeza é necessária à vida.

Estação: Você se julga um autor de muita imaginação?
MACHADO: A imaginação foi a companheira de toda a minha existência, viva, rápida, inquieta, alguma vez tímida e amiga de empacar, as mais delas, capaz de engolir campanhas e campanhas, correndo...

Estação: O que você acha das mulheres?
MACHADO: As mulheres são apenas mulheres, choram, arrufam-se ou resignam-se; as que têm alguma mais do que a debilidade feminina, lutam ou recolhem-se à dignidade do silêncio.

Estação: Mas suas personagens femininas já não choram tanto quanto às do Romantismo...
MACHADO: Não gosto de lágrimas, ainda em olhos de mulheres, sejam ou não bonitas; são confissões de fraqueza, e eu nasci com tédio aos fracos. Ao cabo, as mulheres são menos fracas que os homens, ou mais pacientes, mais capazes de sofrer a dor e a adversidade.

Estação: É a favor do voto feminino?
MACHADO: Venha, venha o voto feminino; eu o desejo, não somente porque é ideia de publicistas notáveis, mas porque é um elemento estético nas eleições, onde não há estética. ( História de 15 dias)

Estação: Suas personagens parecem dissimuladas. Você acha que às vezes a mentira é necessária?
MACHADO: A mentira é muita vez tão involuntária como a respiração. ( Dom Casmurro)

Estação: Você que tanto escreveu sobre a loucura, o que é a loucura?
MACHADO: A loucura é uma ilha perdida no oceano da razão. A loucura é uma dança de ideias. ( Gazeta de Notícias)

Estação: Cite um objeto capaz de te dar prazer.
MACHADO: Botas....as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar.  (Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Estação: Que objeto te assusta?
MACHADO:  O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede. Conheço um que já devorou três gerações da minha família.  ( Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Estação: Você tem algum medo?
MACHADO: O medo é um preconceito dos nervos. E um preconceito desfaz-se – basta a simples reflexão.

Estação: Nem da velhice tem medo?
MACHADO: Os anos nada valem por si mesmos. A questão é saber aguentá-los, escová-los bem, todos os dias, para tirar a poeira da estrada, trazê-los lavados com água e higiene e sabão da filosofia.

Estação: O que você acha do Brasil?
MACHADO: O Brasil real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o Brasil oficial, esse é caricato e burlesco.

Estação: Qual o defeito do povo brasileiro?
MACHADO: Um dos defeitos mais gerais, entre nós, é achar sério o que é ridículo, e ridículo o que é sério, pois o tato para acertar nestas coisas é também uma virtude do povo.            ( Diário do Rio de Janeiro)

Estação: O que acha do teatro brasileiro?
MACHADO: Em uma terra onde tudo está por fazer, não seria o teatro, cópia continuada da sociedade, eu estaria mais adiantado. ( Diário do Rio de Janeiro)

Estação: O público seria o culpado pelo descaso em relação à arte?
MACHADO:  O público não tem culpa nenhuma, nem do estado da arte, nem da sua indiferença por ela; uma prova disso é a solicitude com que corre a ver a primeira representação das peças nacionais, e os aplausos com que sempre recebe os autores e as obras, ainda as menos corretas.   (Diário do Rio de Janeiro)

Estação: O que acha de Shakespeare?
MACHADO: Não se comenta Shakespeare, admira-se.  (“Revista dos Teatros”)

Estação: E Castro Alves?
MACHADO: Não é raro andarem separadas estas duas qualidades da poesia: a forma e o estro. Os verdadeiros poetas são os que as têm ambas. Vê-se que o sr. Castro Alves as possui; veste as suas ideias com roupas finas e trabalhadas.   (resposta a uma carta de José de Alencar)

Estação: Aprecia José de Alencar?
MACHADO:  Nenhum escritor teve mais alto grau a alma brasileira. E não é só porque houvesse tratado assuntos nossos. Há um modo de ver e sentir, que dá íntima nacionalidade, independente da face externa das cousas. O nosso Alencar juntava a esse dom a natureza dos assuntos tirados da vida ambiente e da história local. Outros o fizeram também; mas a expressão do seu gênio era mais vigorosa e mais íntima. A imaginação que sobrepujava nele o espírito de análise dava a tudo o calor dos trópicos e as galas viçosas de nossa terra.         ( discurso “A estátua de José de Alencar”)

Estação: Você trabalha bastante, não se cansa?
MACHADO: A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente.   ( Dom Casmurro)

Estação: Acredita que um dia irá ganhar na loteria?
MACHADO: Loteria e mulher, pode acabar cedendo um dia.

Estação: Você não quis ter filhos...
MACHADO: Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.

Estação: Mas você não acha ruim a solidão?
MACHADO: A solidão é oficina de ideias, e o espírito deixado a si mesmo, embora no meio da multidão, pode adquirir uma tal ou qual atividade.

Estação: O que pensa sobre o casamento?
MACHADO: O casamento é a pior ou melhor coisa do mundo; pura questão de temperamento. ( Helena)

Estação: Qual é o pecado mais imperdoável que um homem pode cometer?
MACHADO: O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado.

Estação: Você gosta de carnaval?
MACHADO: O carnaval é o momento histórico do ano. Paixões, interesses, mazelas, tristezas, tudo pega em si e vai viver em outra parte.

Estação: Quanto à política, o que acha?
MACHADO: O carnaval desta terra é constante, e é a política que nos oferece o espetáculo de um contínuo disfarce.

Estação: É a favor da democracia?
MACHADO: A democracia, sinceramente praticada, _ tem os seus Gracos e os seus Franklins; quando degenera em outra coisa tem os seus Quixotes e os seus Panças, quixotes no sentido da bravata, Panças no sentido do grotesco.

Estação: Você não acha que o povo vota mal, não sabe votar?
MACHADO: Quem pode impedir que o povo queira ser mal governado? É um direito anterior e superior a todas as leis.

Estação: Você gosta do imperador do Brasil?
MACHADO: Não frequento o paço, mas do gosto do imperador. Tem duas qualidades essenciais ao chefe de uma nação: é esclarecido e honesto. Ama o seu país e acha que ele merece todos os sacrifícios.

Estação: O que achou da abolição?
MACHADO: A abolição é a aurora da liberdade; emancipado o preto, resta emancipar o branco.   ( Esaú e Jacó)

Estação: Você comemorou abolição da escravatura?
MACHADO: Sim, também eu saí à rua, eu o mais encolhido dos caramujos, também eu entrei no préstito, em carruagem aberta, se me fazem favor, hóspede de um gordo amigo ausente; todos respiravam felicidade; tudo era delírio. Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto. ( Diário do Rio de Janeiro)

Estação: Você é um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Que pensa acerca daqueles que a criticam?
MACHADO: Em França há muito quem ataque ou diga mal da Academia, mas são os que estão fora dela; os que a compõem sabem amá-la e prezá-la. Aqui a própria Academia acha em si mesma oposição. ( Carta a Mário de Alencar)

Estação: Como deve ser o trabalho de um crítico literário?
MACHADO: O crítico deve ser independente __ independente em tudo e de tudo __ independente da vaidade dos autores e da vaidade própria.

Estação: É necessário dar publicidade ao talento para que ele seja reconhecido?
MACHADO: Até o merecimento precisa de um pouco de rufo e outro pouco de cartazes.  ( O Cruzeiro)

Estação: Por que é tão difícil publicar livros no Brasil?
MACHADO: Há duas razões desta situação: uma de ordem material, outra de ordem intelectual. A primeira, que se refere à impressão dos livros, impressão cara, e de nenhum lucro pecuniário, prende-se inteiramente à segunda que é a falta de gosto formado no espírito público.  ( Diário do Rio de Janeiro)

Estação: O que é necessário para um homem viver em paz?
MACHADO: O melhor modo de viver em paz é nutrir o amor-próprio dos outros com pedaços do nosso. ( Helena)

Estação: Como você definiria as seguintes palavras:
a) Saudade?
MACHADO: A saudade é o passar e o repassar das memórias antigas.

b) Vaidade?
MACHADO: A vaidade é um princípio de corrupção.

c) Ingratidão?
MACHADO: A ingratidão é um defeito do qual não devemos fazer uso.


d) Franqueza?
MACHADO: A franqueza é a primeira virtude de um defunto. (Memórias Póstumas de Brás Cubas)

e) Alma humana? Se eu houvesse de definir a alma humana, diria que ela é uma casa de pensão. Cada quarto abriga um vício ou uma virtude. Os bons são aqueles em que os vícios dormem sempre e as virtudes velam os maus...Adivinhaste o resto; poupas-me o trabalho de concluir a lição.  ( Gazeta de Notícias)

Estação: Fale sobre seu último livro, Memorial de Aires:
MACHADO: O livro é derradeiro; já não estou em idade de folias literárias nem outras. O meu receio é que fizesse a alguém perguntar por que não parara no anterior, mas se tal não é a impressão que ele deixa, melhor. ( Carta a José Veríssimo)

Estação: Traz alguma novidade neste livro?
MACHADO: Não é novo nada disto, nem eu estou aqui para dizer coisas novas, mas velhas, coisas que pareçam ao leitor descuidado que é ele mesmo que as está inventando.  ( Gazeta de Notícias)

Estação: Você que conta tantas histórias, como acha que vai ser o final de sua vida?
MACHADO: Os anos (...) vão caindo sobre mim, que lhes resisto ainda um pouco, mas o meu organismo terá de vergar totalmente; e as letras, também elas me cansarão um dia, ou se cansarão de mim, e ficarei à margem. ( Carta a Salvador de Mendonça)

Estação: Mudaria alguma coisa em seu passado?
MACHADO: O passado é ainda a melhor parte do presente, __ na minha idade, entenda-se.

Estação: Como é a falta que sua falecida esposa faz?
MACHADO: Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo. Note que a solidão não me é enfadonha, antes me é grata, porque é um modo de viver com ela, ouvi-la, assistir aos mil cuidados que essa companheira de 35 anos de casados tinha comigo; mas não há imaginação que não acorde, e a vigília aumenta a falta da pessoa amada.   ( Carta a Joaquim Nabuco)

Estação: E se pudesse escolher morrer antes dela?
MACHADO: Éramos velhos, e eu não contava morrer antes dela, o que seria um grande favor; primeiro, porque não acharia ninguém que melhor me ajudasse a morrer; segundo, porque ela deixa alguns parentes que a consolariam das saudades; e eu não tenho nenhum. Os meus são os amigos, e verdadeiramente são os melhores; mas a vida os dispersa, no espaço, nas preocupações do espírito e na própria carreira que a cada um cabe. ( Carta da Joaquim Nabuco)

Estação: O que você diria ao leitor que não goste dos seus livros?
MACHADO: A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.  ( Memórias Póstumas de Brás Cubas)

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