terça-feira, 22 de março de 2011

CATACRESE

Catacrese

Do Grego katákhresis (= uso impróprio, abuso) e denominada abusio em Latim. De acordo com o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa catacrese é “uma  metáfora já absorvida no uso comum da língua, de emprego tão corrente que não é mais tomada como tal, e que serve para suprir a falta de uma palavra específica que designe determinada coisa”. A Revista Discutindo Língua Portuguesa  n.01 ressalva que às vezes até existe o termo, mas este é de uso pouco generalizado. É o caso de “céu da boca” que substitui “palato” ou “batata da perna” que substitui “panturrilha”.

  1. bloco de carnaval
  2. cordão humano
  3. banana de dinamite
  4. casa de marimbondo
  5. embarcar no avião
  6. engarrafamento de veículos
  7. maçã do rosto    ( no lugar de pômulo)
  8. árvore genealógica
  9. folha de papel
  10. cortina de fumaça
  11. asa da xícara
  12. coroa do abacaxi
  13. enterrar agulha na pele
  14. anel viário
  15. ponte aérea
  16. surfe ferroviário
  17. leito do rio
  18. monte de dinheiro
  19. chumbar o quadro na parede
  20. bico da pena
  21. relógio (medidor de energia elétrica)
  22. fio de azeite (pouco de azeite)
  23. o avião aterrissou em alto-mar (aterrisar é em terra)
  24. o azulejo é branco (azulejo devia ser azul)
  25. sacar dinheiro no banco (banco não é saco)
  26. encaixar uma ideia na cabeça (cabeça não é caixa)
  27. miolo da questão
  28. ventre da terra
  29. tapete de relva
  30. laços matrimoniais

É comum catacreses referentes às partes do corpo:
  1. céu da boca
  2. pé da mesa
  3. pé-de-meia
  4. pé de cabra
  5. pé de laranja
  6. pé-de-moleque
  7. costas da cadeira
  8. braço da poltrona
  9. braço do rio
  10. cabeça de alho
  11. cabeça de prego
  12. olho do furacão
  13. dente de serrote
  14. dente do pente
  15. orelha do livro
  16. cabelo do milho
  17. coração da cidade
  18. pele do tomate
  19. barriga da perna
  20. boca do fogão
  21. boca da noite
  22. boca da garrafa
  23. boca do túnel
  24. mão-de-vaca
  25. olho d’água
  26. língua de fogo

A professora Thaís Nicoleti de Camargo explica como surge a catacrese:
Não faz muito tempo, um leitor escreveu para a Folha queixando-se do frequente uso feito pelo jornal do que ele considera uma impropriedade linguística, a saber, a expressão "casal gay". O motivo da indignação se fundamenta na definição que os dicionários trazem da palavra "casal": "par composto de macho e fêmea ou de homem e mulher". Assim, duas pessoas do mesmo sexo não poderiam, em tese, constituir um casal. Ocorre, entretanto, que duas pessoas do mesmo sexo podem conviver como um casal. E a diminuição do tabu em relação à homossexualidade torna essa situação mais corriqueira e, sobretudo, mais visível. Assim, surge a necessidade de um termo para dar conta dessa realidade. Não é preciso pensar muito para, automaticamente, por analogia com os pares heterossexuais, considerar um casal dois homossexuais que namorem ou vivam juntos. O adjetivo "gay" exprime a particularidade desse casal. Na falta de uma palavra específica, a língua põe à disposição dos seus usuários a possibilidade de estender o significado de uma palavra que guarde vínculo analógico com aquilo que se pretende nomear. Surge, então, uma espécie de metáfora "obrigatória", ou seja, uma palavra que nasce de um processo figurativo da linguagem, mas sem intenção poética. Esse procedimento, que é espontâneo, chama-se "catacrese", termo que significa, segundo a etimologia, "o emprego de uma palavra em sentido abusivo".
Othon Garcia também explica o surgimento da catacrese:
“Se não se dispõe de uma palavra própria para designar com exclusividade as colunas que sustentam o tampo da mesa, o que fazer? Criar um neologismo ou aproveitar palavra já existente que designe coisa semelhante, como a perna ou o pé que sustentam o corpo humano; daí a catacrese pé ou perna da mesa”.
Para Othon, a catacrese é uma metáfora morta, ou seja, já não se sente nenhum vestígio de inovação, é a metáfora tornada hábito linguístico, fora do âmbito estilístico. Essa seria uma diferença entre catacrese e metáfora. “Ambas (metáfora e catacrese) se baseiam numa relação de similaridade; mas a diferença entre ambas reside ainda no fato de que a catacrese, além de estender o sentido de uma palavra além do seu âmbito habitual, deixa de ser sentida como metáfora, dado o seu uso corrente.”
O jornal Mundo Jovem publicou este poema da autoria de Maria da Ajuda G. Laranjeiras.

Catacrese em Cordel

Catacrese é uma senhora
Com muita educação
Resolveu fazer uma festa
Lá na casa do botão.
Como tinha muitos amigos
Nem todos podia convidar
Os que ela mais gostava
Pra festa mandou chamar.

O início da festança
À boca da noite começou
E a maçã do rosto
Foi a primeira que chegou.

E logo foi sentando
No braço do sofá
Depois chegaram todos
Pé-de-meia, o último a chegar.

Boca de forno ficou triste
Porque não podia andar
De tanto ficar de boca aberta
Deu câimbra no maxilar.

Dente de alho ali num canto
Com ninguém conversava
Pois não tinha um perfume
Que o seu cheiro tirava.

A senhora perna da mesa
Muito triste resmungava
De uma cabeça de prego
Que seu pé machucava.

Céu da boca não achou graça
No meio de tanta gente
Quando foi tomar café
O danado estava quente.

Lá pelas tantas horas
Olho-d’água um susto levou
A asa da sua xícara
Sacudiu e levantou voo.

Menina do olho no final
Começou a cochilar
Mas tinha que partir
E de seus amigos separar.

Na saída pé de cabra
Provocou uma confusão
Deu um chute na batata
Da perna de seu irmão
Logo chegou o delegado
E levou todos pra prisão.

de Maria da Ajuda G. Laranjeiras
Araguaína - TO - por correio eletrônico
EXERCÍCIO SOBRE CATACRESE
01. Por que a catacrese é considerada uma metáfora morta?
02. Por que a expressão “embarcar no avião” é uma catacrese?
03. A expressão “embarcar numa canoa furada”, usada em sentido conotativo, é um exemplo de catacrese ou metáfora? Justifique.
04. Liste cinco exemplos de catacrese.
05.  Assinale o INcorreto:
a) A catacrese atende uma finalidade de uso, não de efeito expressivo.
b) A catacrese é uma metáfora estereotipada, ou seja, uma metáfora que perdeu seu caráter inovador.
c) A catacrese é uma figura de linguagem pouco frequente.
d) Pode a catacrese substituir um termo existente por este não ser tão de uso tão generalizado.



3 comentários:

  1. Jamais esquecerei dos exemplos que vi aqui. Parabéns pelo blog.

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  2. adorei o cordel e minha professora tambem

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  3. Demais, os exemplos salvaram minha redação de português, haha

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