domingo, 27 de março de 2011


GREGÓRIO DE MATOS _ NOSSO PRIMEIRO POETA MALDITO

O poeta baiano Gregório de Matos Guerra teve uma vida tão inquietante quanto sua poética. Filho de senhor de engenho, estudou no Colégio dos Jesuítas, em Salvador e, se formou em Direito na Universidade de Coimbra, em Portugal. Lá, ele se casou, mas ficou viúvo após quatro anos de casamento. Desempenhava a função de juiz, quando foi nomeado para Desembargador da Relação Eclesiástica da Bahia, um cargo burocrático da época. Gregório então retornou ao Brasil depois de 32 anos em Portugal. Mas não durou muito no cargo, ele se recusava a seguir as normas da Ordem, inclusive, não aceitava usar batina. A partir daí teria começado sua fama de poeta satírico. Como meio de vida passou a advogar, mas escolhia as causas que lhe pareciam justas e isso o levava a ter como pagamento sapatos ou galinhas.
            Casou-se com Maria de Póvoas (ou dos Povos), sem conseguir compor uma prole com ela: seu filho Gonzalo, morreu precocemente, a exemplo do filho que tivera com Michaela, sua primeira esposa. Para Maria dos Povos ele compôs belos sonetos, isso não o impediu, contudo, de levar fama de mulherengo, numa suposta vida de boêmia e pândegas.
            A decadência de Gregório veio em 1685, quando foi denunciado para o Tribunal do Santo Ofício. A acusação? “ homem solto sem modo de cristão”. Gregório conseguiu livrar-se da demanda, mas seus poemas satíricos contra o governador da Bahia, Luís Câmara Coutinho, trouxeram-lhe muitas complicações. Ameaçado de morte pelos filhos do governador, seus amigos influentes arranjaram-lhe um exílio forçado em Angola, na tentativa de poupá-lo da morte.
            Na África, ele ajudou na prisão de líderes de uma revolta contra a Coroa. Graças a isso, foi-lhe concedido o direito de voltar ao Brasil, porém sob a condição de jamais botar os pés na terra natal, a Bahia. Em decorrência, ele foi para Recife, onde faleceu aos 59 anos de uma febre amarela contraída em Angola.
            Seu apelido “Boca do Inferno”, revela seu espírito inquieto e rebelde. Através de sua “lira maledicente”, ele denunciava toda sorte de abusos e de hipocrisia da sociedade brasileira do século XVII.
            Sua produção divide-se em lírica, filosófica e sacra. Luiz de Camões e o espanhol Luís de Gongora foram suas maiores influências na lírica. Nela, a mulher é vista sob dois enfoques: ora como um angelical e encantador; ora como a tentadora do homem, a corruptora.
            No tocante à poesia filosófica, o poeta fala sobre a condição mortal do ser humano e o perecível das coisas. Fica evidente a influência do pensamento da Contra-Reforma em seus poemas.
            Na parte sacra ou religiosa, o eu-lírico apresenta-se desejoso de gozar os deleites deste mundo, mas receoso de perder a salvação. Gregório usa sua argumentação lógica de advogado, para convencer a Deus a perdoá-lo de seus pecados não por ele está arrependido, mas porque pecar seria uma forma de garantir a Deus  uma oportunidade de exibir sua graça e misericórdia. Já em outros poemas, o eu-lírico mostra-se arrependidíssimo, dirigindo suas súplicas a uma  imagem de Jesus Cristo crucificado.
            Já os poemas satíricos de Gregório são revestidos de humor, ironia e crítica desbocada, daí a razão de seu apelido “Boca do inferno”. E Gregório defende sua sátira: “Se souberas falar, também falaras/ Também satirizaras, se souberas,/ E se fora poeta, poetizaras”. Aos políticos, ele ressalta a corrupção ativa e passiva, ao clero, a devassidão, aos militares, o abuso de autoridade, aos portugueses condenou a ganância, aos filhos de fazendeiros, a mania de querer ser nobre e por aí vai. “Canalha infernal” era o termo que ele usava para toda essa gente que habitava a Bahia, a capital do Brasil na época. Nem de longe Gregório fazia poemas para agradar ou bajular alguém. O conde da Ericeia, D. Luís de Meneses, encomendou para si um poema de louvação. Gregório fez o poema, mas sem homenageá-lo:

Um soneto começo em vosso gabo,
Contemos esta regra por primeira;
Já lá vão duas e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo.

Na quinta troce agora a porca o rabo,
A sexta vá também desta maneira;
Na sétima entro já com grã canseira,
E saio dos quartetos muito brabo.

Agora nos tercetos que direi?
Direi que vós, Senhor, a mim me honrais,
Gabando-vos a vós, e eu fico um rei.

Nesta vida um soneto já ditei,
Se desta agora escapo, nunca mais;
Louvado seja Deus, que o acabei.

Até hoje os pesquisadores da obra desse admirável poeta tentam reunir seus textos, pois ele não publicou nada em vida, deixando seus poemas em dezenas de códices (cadernos antigos costurados à mão) espalhados pelas bibliotecas de Portugal, Brasil e EUA. Essa é também a razão pela qual sua produção permaneceu inédita até meados do século XIX.

Veja a descrição física de Gregório de Matos feita por Manuel Pereira Rabelo:
Foi o doutor Gregório de Mattos de boa estatura, seco de corpo, membros delicados, poucos cabelos, e crespos, testa espaçosa, sobrancelhas arqueadas, olhos garços, nariz aguilenho, boca pequena, e engraçada: barba em demasia, claro, e no trato cortesão. Trajava comumente seu colete de pelica âmbar, volta de fina renda, e era finalmente um composto de perfeições, como poeta Português, que são Esopos os de outras nações.
Tinha fantesia (sic) natural no passeio, e quando algumas vezes por recreação surcava os quietos mares da Bahia a remo compasso com tão bizarra confiança, interpunha os óculos, examinando as janelas de sua cidade, que muitos curiosos iam de propósito a vê-lo. Trajava cabeleira, suposto naquele tempo era pouco versado.
Era o Doutor Gregório de Mattos acérrimo inimigo de toda a hipocrisia, virtude, que se pudera, devia moderar, atendendo aos costumes dos presentes séculos, em que o mais retirado Anacoreta se enfastia da verdade crua. Mas seguindo os ditames de sua natural impertinência habitava os extremos da verdade com escandalosa virtude.
QUESTÕES DE VESTIBULARES SOBRE A OBRA GREGORIANA

1. (UFRN)
A obra de Gregório de Matos — autor que se destaca na literatura barroca brasileira — compreende
a. poesia épico-amorosa e obras dramáticas.
b. poesia satírica e contos burlescos.
c. poesia lírica, de caráter religioso e amoroso, e poesia satírica.
d. poesia confessional e autos religiosos.
e. poesia lírica e teatro de costumes.
Resposta: c

2. PUCC-SP)
“Que falta nesta cidade? Verdade”.
Que mais por sua desonra? Honra.
Falta mais que se lhe ponha? Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha."

Pode-se reconhecer nos versos acima, de Gregório de Matos,
a. o caráter de jogo verbal próprio do estilo barroco, a serviço de uma crítica, em tom de sátira, do perfil moral da cidade da Bahia.
b. o caráter de jogo verbal próprio da poesia religiosa do século XVI, sustentando piedosa lamentação pela falta de fé do gentio.
c. o estilo pedagógico da poesia neoclássica, por meio da qual o poeta se investe das funções de um autêntico moralizador.
d. o caráter de jogo verbal próprio do estilo barroco, a serviço da expressão lírica do arrependimento do poeta pecador.
e. o estilo pedagógico da poesia neoclássica, sustentando em tom lírico as reflexões do poeta sobre o perfil moral da cidade da Bahia.

RESP: a


3. (VUNESP)

      Ardor em firme coração nascido;
      pranto por belos olhos derramado;
      incêndio em mares de água disfarçado;
      rio de neve em fogo convertido:
      tu, que em um peito abrasas escondido;
      tu, que em um rosto corres desatado;
      quando fogo, em cristais aprisionado;
      quando crista, em chamas derretido.
      Se és fogo, como passas brandamente,
      se és fogo, como queimas com porfia?
      Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
      Pois para temperar a tirania,
      como quis que aqui fosse a neve ardente,
      permitiu parecesse a chama fria.

O texto pertencente a Gregório de Matos e apresenta todas seguintes características:

a) Trocadilhos, predomínio de metonímias e de símiles, a dualidade temática da sensualidade e do refreamento, antíteses claras dispostas em ordem direta.

b) Sintaxe segundo a ordem lógica do Classicismo, a qual o autor buscava imitar, predomínio das metáforas e das antíteses, temática da fugacidade do tempo e da vida.

c) Dualidade temática da sensualidade e do refreamento, construção sintática por simétrica por simetrias sucessivas, predomínio figurativo das metáforas e pares antitéticos que tendem para o paradoxo.

d) Temática naturalista, assimetria total de construção, ordem direta predominando sobre a ordem inversa, imagens que prenunciam o Romantismo.

e) Verificação clássica, temática neoclássica, sintaxe preciosista evidente no uso das síntese, dos anacolutos e das alegorias, construção assimétrica.

RESP: C

4. (UEL) Identifique a afirmação que se refere a Gregório de Matos:

a) No seu esforço da criação a comédia brasileira, realiza um trabalho de crítica que encontra seguidores no Romantismo e mesmo no restante do século XIX.

b) Sua obra é uma síntese singular entre o passado e o presente: ainda tem os torneios verbais do Quinhentismo português, mas combina-os com a paixão das imagens pré-românticas.

c) Dos poetas arcádicos eminentes, foi sem dúvida o mais liberal, o que mais claramente manifestou as idéias da ilustração francesa.

d) Teve grande capacidade em fixar num lampejo os vícios, os ridículos, os desmandos do poder local, valendo-se para isso do engenho artificioso que caracteriza o estilo da época.

e) Sua famosa sátira à autoridade portuguesa na Minas do chamado ciclo do ouro é prova de que seus talento não se restringia ao lirismo amoroso.

RESP: D

sábado, 26 de março de 2011

DISSERTAÇÃO I

Nem sempre é fácil descobrir um tema interessante e atual para produzir uma redação. Mas sabemos que o treino é a melhor forma para aprender a redigir. Trago uma dica de tema bastante atual e polêmico: a pirataria. Os produtos piratas são uma realidade a qual estamos acostumados a ver em qualquer canto do Brasil. No entanto, independente do tema, é interessante que, antes de produzir o texto, haja um contato com pelo menos um texto sobre o assunto em pauta. Isso gera ideias, ajuda a refletir e deixa a mente mais aguçada para a produção. Mas não vale copiar as palavras do texto-base ou limitar-se a segui-lo servilmente. Encontrei um texto na internet que pode ajudar a refletir sobre a problema da pirataria.

Afinal, o que é pirataria? (Autor: Fabio Bracht)  
 De acordo com a Wikipédia: A pirataria moderna se refere à cópia, venda ou distribuição de material sem o pagamento dos direitos autorais, portanto, apropriação da forma anterior ou com plágio ou cópia de uma obra anterior, com infração deliberada à legislação que protege a propriedade artística ou intelectual. Gosto de dizer que a pirataria é quando você usa algo e não pagou por aquilo. Pelo menos não pagou para quem deveria.
» Por que dizem que a pirataria financia o crime?
Talvez este seja um dos pontos mais polêmicos e difíceis de enxergar na pirataria.
Quando você compra algo ilícito, o produto não foi produzido pelo vendedor. Não, o camelô da esquina não baixou o GTA IV (série de jogos de computador) e fez mil cópias, ele comprou isso de alguém. Esse alguém, normalmente, é alguém da Europa Oriental e Ásia — da onde você acha que vem o termo “Ching Ling”, que define coisas falsificadas? –, e para essas mil cópias chegarem na sua banca predileta elas precisaram fazer um longo trajeto da origem até aqui. Como você já deve estar imaginando, o produto não veio de Fedex, nem Correios e nem na cota de alguém que foi viajar para lá… Se esses meios fossem utilizados, seria muito simples apreender estes produtos nas alfândegas por onde eles têm que passar. Mesmo se não fossem apreendidos, na melhor das hipóteses seriam taxados, impossibilitando que fossem vendidos por apenas “dérreal”.
Esses produtos foram transportados por alguém que conhece como entrar em um país sem ser detectado, usando diversos meios. E aqui está o primeiro ponto crítico.As formas utilizadas para introduzir o produto em um país são bem simples: subornos, autoridades compradas etc… E o pior: como o transportador é especialista em cruzar fronteiras sem ser percebido, ele traz muito mais do que CDs e DVDs piratas. Nos contêineres chegam armas, drogas, rins e, se bobear, escravos brancos. “Hã?!” É isso mesmo, o “frete” é dividido… Obviamente não se compram tantos órgãos humanos quanto DVDs piratas, mas os DVDs ajudam a baratear o transporte. Daí que surge o fato da pirataria financiar, diretamente ou indiretamente, o crime organizado.
Isso não é invenção minha. Está descrito com mais detalhes no excelente livro “Ilícito”, de Moisés Naím. Neste mesmo livro existem vários relatos, como por exemplo o ataque terrorista que aconteceu na Espanha em 2005 e foi exclusivamente financiado pela venda de camisas de time de futebol falsificadas. Os terroristas não tinham como receber dinheiro de fora, então partiram para este meio. Pode parecer exagero, mas não é. Recomendo para quem quiser se aprofundar no assunto.
Você já deve ter ouvido a frase: “Se for para usar produtos piratas, pelo menos tenha a decência de baixar e não comprar de camelôs”. Agora entende o por quê.
Podemos dizer que este é o primeiro mal causado pela pirataria, o financiamento de meios ilícitos. E é o mais difícil de ser visualizado pelo comprador, já que isso está no background da operação.
» Mas eu não compro, eu faço download…
OK, você não compra de camelôs, mas baixa tudo da Internet ou copia do seu colega. Nesse caso você não está ajudando o crime organizado, mas está afetando diretamente o dono do produto (músico, desenvolvedor, ator, gravadora etc.), pelo simples motivo de que ele não está recebendo o que lhe é de direito pelo seu trabalho. É como você trabalhar o mês inteiro e sua empresa resolver não te pagar. Simples assim. Ou, descrevendo mais corretamente, é como roubar.
Recentemente foi divulgado que o custo de produção do GTA IV chegou aos cem milhões de dólares. Vou colocar em números pra você ver a quantidade de zeros que tem nesse número: US$100,000,000.00. Fica muito claro o alto investimento que é feito em um produto. Só que eles não gastaram tudo isso pra te dar um presente. A Rockstar é uma empresa e, como toda empresa, espera ter lucro em cima de qualquer investimento. Se não vender, não tem lucro. Repito: o objetivo de qualquer empresa que não seja governamental ou ONG é ter lucro. Até a toda-boazinha Nintendo tem como objetivo ter lucro; fazer jogos bacanas é apenas o meio que ela achou de fazer isso.
No caso da música você pode alegar que o artista recebe um percentual muito baixo do CD. Isso é verdade, a maior parte do valor do CD vai para a gravadora. E isso é justo, é o que foi acordado com o artista. Ora, quem bancou o artista para ele gravar o disco no melhor estúdio? Quem divulga o artista para a mídia? Sem a gravadora o artista fica conhecido apenas na sua região, por mais que divulgue seu trabalho.Destacamos o segundo mal causado pela pirataria: danos financeiros aos produtores do produto.
» Mas isso não me afeta!
Afeta. Afeta sim, e de várias formas. A curto prazo você está afetando o preço do produto no mercado — claramente, quem compra o produto original está pagando pelo seu pirata. Se compra o produto ilícito, está contribuindo para o crime organizado. O mesmo que depois vai te assaltar na saída do ônibus e roubar o seu PSP.
A médio prazo está inibindo a entrada de novos produtos e investimentos no país. A longo prazo corremos o risco de não termos mais lançamentos. Se a pirataria um dia dominar de vez (ainda mais), não será mais interessante para as empresas investir nisso. É simples assim. Teremos boas bandas, boas ideias para jogos, boas ideias para filmes… mas não haverá ninguém para financiar, pois não haverá retorno neste nicho de mercado.
O exemplo que vou dar pode parecer bobeira para muitos. Amo música, e consequentemente me tornei um colecionador de CDs. Outro dia achei na Saraiva o CD novo da Madeleine Peyroux por R$13.50. Isso mesmo, um lançamento por este preço! Comprei na hora. Chegando em casa, ao abrir o produto, me deparei com uma caixa de papelão e o CD. Mais nada. Nem encarte, nem letras de música… Nada! Ou seja, para baixar o custo e competir com a pirataria, a qualidade do produto caiu. Pode parecer bobeira, mas para um colecionador isso é o fim. Você gostaria de comprar o Metal Gear Solid 4 original e receber só uma caixinha de papelão com uma foto do velho Snake e o disco dentro de um envelopinho de papel? Pois é.
» Mas eu não tenho dinheiro! (Ou “O círculo vicioso”)
Uma coisa é certa: nunca um produto original será tão barato quanto um produto pirata. Mesmo se a Microsoft vendesse um jogo a R$10.00, o pirata consegue vender a R$1.00 com margem de lucro maior que da Microsoft. O pirata apenas copia o DVD. Custo disso? Alguns centavos… A explicação em cima disso é simples, a Microsoft tem vários custos: produção, confecção, marketing, impostos, etc. Não tem como competir.
Já ouvi vários discursos defendendo a pirataria, mas sempre fica algo do tipo: “Não tenho dinheiro para comprar jogo original”. Mas já ouvi isso de uma pessoa que tinha um Xbox 360 (R$1,500), uma TV LCD de 32″ (R$2,000), saía de balada sempre que quisesse sem se preocupar com grana e tinha um emprego que lhe pagava bem melhor do que a média dos brasileiros. Preciso explorar mais isso? Ok. Meu sonho é ter uma BMW. Mas não tenho como comprar uma, e aí? A situação é a mesma, por mais que se tente dizer o contrário.
“Ah, se fosse mais barato eu compraria original”. Aqui é que vira um círculo vicioso. Se você perguntar para uma empresa ela dirá: “Se as pessoas comprassem mais, seria mais barato”. É o mercado. Quanto mais se vende, mais barato fica.
É engraçado, mas quando converso com pessoas que consomem produtos piratas, percebo que elas não enxergam o valor do conteúdo. Já ouvi coisas do tipo “Como um jogo do 360 custa R$159.00? É só um DVD!”. Parece que por ser algo intangível (no caso, um software) a pessoa não dá valor para aquilo. Como se um DVD com Mario Kart Wii valesse tanto quanto uma mídia virgem. A maioria do pessoal ainda acha que está apenas pagando pela mídia, ignorando todo o esforço que foi feito para chegar no conteúdo final.
» O que posso fazer para mudar isso?
Primeiro, o óbvio: não consumir produtos ilícitos. Pode parecer difícil à primeira vista, mas, sério, não é. É só olhar para aquelas dezenas de jogos de PS2 que você comprou nos últimos anos e não jogou mais do que alguns minutinhos. Quantos jogos você realmente aproveitou, jogou até a última gota? Faria diferença se, neste exato momento, todos os seus outros jogos sumissem? Não, aqueles poucos que você jogou mesmo são os que importam, e como estes certamente não foram lançados no mesmo mês, é só pensar pra ver que não ia cair nenhum pedaço seu se você os tivesse comprado originais.
E se você faz muita questão desses “alguns minutinhos” que você jogou os outros, é mais uma desculpa que cai por terra, ao menos para os donos de PS3 e Xbox 360. Já que estes consoles disponibilizam demos grátis que você pode baixar para experimentar os jogos.
Segundo: educação. Por incrível que pareça, a maioria das pessoas não imagina o que há por trás da pirataria e o impacto disso na economia e na sociedade. Às vezes porque são ingênuas (e acreditam que foi o Tio Zé mesmo quem gravou aquele GTA IV que “nem lançou ainda”) ou se fazem de desentendidas. Então se você não apóia a pirataria, explique para quem consome produtos ilícito esse impacto.
Este trecho retirado de um artigo do site Administradores.com.br eu acho que resume tudo, e é difícil ficar indiferente frente a isso:
Foram publicados recentemente pela INTERPOL dados que assustaram o mundo: que o volume transacionado pela pirataria atingia a cifra de U$516 bilhões, ultrapassando até mesmo o tráfico de drogas, que movimentou U$322 bilhões em 2006. [...] A pirataria é hoje considerada como o maior desafio do comércio internacional do século XXI [...], pois apresenta uma característica fatal ao crescimento sustentado da economia mundial e consecutivamente inibe a inovação, tornando inviáveis os investimentos. E por este motivo deixa-se de surgir novas tecnologias essenciais para o desenvolvimento humano, como vacinas e remédios, sem deixar de mencionar autores de livros e músicas, neste último caso são os mais afetados.
» Para finalizar Diversos são os caminhos e ações para se resolver este problema, o “maior desafio do comércio internacional do século XXI”. Redução de impostos, punição aos consumidores, redução de preço por redução de qualidade e por aí vai… A única certeza é que cada vez mais as empresas investirão em combate à pirataria, dinheiro esse que poderia ser gasto com coisas, digamos, mais legais. Com o perdão do trocadilho.
Espero ter ajudado a entender um pouco melhor a pirataria. Agora, pelo menos, ao adquirir um produto pirata você sabe mais sobre ele, de onde veio, e o impacto dele na nossa vida. Ou, melhor, não vai mais adquirir um produto pirata. No entanto, sei que o assunto é muito extenso, complexo e tem diversos ângulos pelos quais pode ser analisado, o que pode (e deve) gerar muita discussão. Gostaria que a partir daqui a discussão fosse de alto nível, sem ofensas ou apologias.
E para terminar, acho que a frase que resume a essência da coisa toda é esta, copiada na cara dura da assinatura que o Thiago Machuca, fundador da comunidade NGM Online, usa no fórum: “Pirataria: ela te fode por trás e te deixa com a impressão de que é você quem está fodendo”.

SUGESTÃO: FAÇA UMA DISSERTAÇÃO COM O TEMA “PIRATARIA: O CRIME DO SÉCULO XXI”

quinta-feira, 24 de março de 2011

PROPOSTA DE REDAÇÃO: CARTA

Carta escrita em 2070:

"Estamos no ano de 2070, completei os 50, mas minha aparência é de alguém com 85. Tenho sérios problemas renais, porque bebo pouca água. Creio que me resta pouco tempo. Hoje sou das pessoas mais idosas nesta sociedade. Recordo quando tinha 5. Tudo era muito diferente. Havia muitas árvores nos parques, casas com bonitos jardins, e eu podia desfrutar de banhos de chuveiro por mais de hora. Agora usamos toalhas em azeite mineral pra limpar pele.
Antes, todas as mulheres mostravam formosas cabeleiras. Agora, raspamos nossas cabeças pra mantê-las limpas sem água. Antes, meu pai lavava carro com água que saía de mangueira. Hoje os meninos não acreditam que se utilizava água dessa forma. Recordo que havia muitos anúncios que diziam CUIDA DA ÁGUA; mas ninguém ligava; pensávamos que água jamais podia acabar. Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos aquíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados.
Antes, a quantidade de água indicada como ideal para cada pessoa adulta beber era oito copos por dia. Hoje bebo meio copo. A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo; tivemos que voltar a usar poços sépticos (fossas), como no século passado, porque redes de esgotos sem água são inúteis. A aparência da população é horrorosa; corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas que já não têm a capa de ozônio que os filtrava na atmosfera. Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados.
Infecções gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte. A industria está paralisada e o desemprego é dramático. As fábricas de dessalinização são a principal fonte de emprego e pagam-me com água potável ao invés de salário. Assaltos por um bidão de água são comuns nas ruas desertas. A comida é 80% sintética. Ressequida, a pele de uma jovem de 20 anos está como se tivesse 40.
Os cientistas investigam, mas não há solução possível. Não se pode fabricar água, o oxigênio também está degradado por falta de árvores, o que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações. Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos, há muitos meninos com insuficiências, mutações e deformações.
O governo até nos cobra pelo ar que respiramos: 137 m3 por dia por habitante adulto. Os acionistas de empresas que tratam água ficaram ricos e têm preferência no fornecimento. Pessoas que não podem pagar são retiradas das "zonas ventiladas", dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar; mesmo não sendo de boa qualidade ainda podemos respirar; a idade média é de 35 anos. Em alguns países ficaram manchas de vegetação com o seu respectivo rio, que é fortemente vigiado pelo exercito; a água tornou-se um tesouro muito cobiçado, mais que ouro ou diamante. Aqui, em troca, não há árvores porque quase nunca chove e, quando chega a registrar-se, a precipitação é de chuva ácida; as estações do ano têm sido severamente transformadas pelas provas atômicas e pela indústria contaminadora do século XX.
Advertia-se que havíamos de cuidar do meio ambiente, e ninguém fez caso. Quando minha neta me pede que lhe fale de quando era jovem, descrevo o bonito que eram os bosques, lhe falo da chuva, das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse, o saudável que era a gente. Ela pergunta-me: Vovô! Por quê a água se acabou? Então, sinto um nó na garganta; não posso deixar de sentir-me culpado, porque pertenço à geração que terminou destruindo o meio ambiente, ou, simplesmente, não tomamos em conta tantos avisos.
Agora os nossos filhos pagam alto preço e, sinceramente, creio que a vida na terra em breve já não será possível, porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível. Como gostaria de voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendesse isto, quando ainda podíamos fazer algo para salvar o nosso planeta terra!"
John Vask

Documento extraído por um desconhecido da revista biográfica "de Los Tiempos" de abril de 2002.

Faça uma carta narrativa como se estivesse no futuro (pode ser 2070 ou mais) na qual você alerte sobre o risco  das usinas nucleares. Descreva os horrores de um mundo contaminado pela radiação, faça um apelo às autoridades políticas e aos cientistas para o uso de outras alternativas de energia, enfim, use a imaginação e criatividade.


PROVÉRBIOS

ATIVIDADE DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL A PARTIR DE PROVÉRBIOS

ANALISE OS PROVÉRBIOS E MÁXIMAS CONFORME O MODELO:
Modelo: Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.
Resposta: Não se deve trocar o certo pelo duvidoso. As pessoas devem conservar o que já possuem em vez de arriscar por algo temerário.

  1. Casa de ferreiro, espeto de pau.
  2. Festa acabada, músicos a pé.
  3. Quem dá aos pobres, empresta a Deus.
  4. Quem não arrisca, não petisca.
  5. Quem tudo quer, tudo perde.
  6. Da discussão nasce a luz.
  7. Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
  8. O hábito não faz o monge.
  9. Mal de muitos, consolo é.
  10. Águas passadas não movem  moinhos.
  11. Em terra de cego quem tem olho é rei.
  12. Cada macaco no seu galho.
  13. Coelho ido, conselho vindo.
  14. A água silenciosa é mais perigosa.
  15. Em terra de cegos, quem tem olho é rei.
  16. Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza.
  17. Nem tudo que reluz é ouro.
  18. De grão em grão a galinha enche o papo.
  19. Quem tem boca vai a Roma.
  20. Bem mal ceia quem come de mão alheia.

terça-feira, 22 de março de 2011

CATACRESE

Catacrese

Do Grego katákhresis (= uso impróprio, abuso) e denominada abusio em Latim. De acordo com o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa catacrese é “uma  metáfora já absorvida no uso comum da língua, de emprego tão corrente que não é mais tomada como tal, e que serve para suprir a falta de uma palavra específica que designe determinada coisa”. A Revista Discutindo Língua Portuguesa  n.01 ressalva que às vezes até existe o termo, mas este é de uso pouco generalizado. É o caso de “céu da boca” que substitui “palato” ou “batata da perna” que substitui “panturrilha”.

  1. bloco de carnaval
  2. cordão humano
  3. banana de dinamite
  4. casa de marimbondo
  5. embarcar no avião
  6. engarrafamento de veículos
  7. maçã do rosto    ( no lugar de pômulo)
  8. árvore genealógica
  9. folha de papel
  10. cortina de fumaça
  11. asa da xícara
  12. coroa do abacaxi
  13. enterrar agulha na pele
  14. anel viário
  15. ponte aérea
  16. surfe ferroviário
  17. leito do rio
  18. monte de dinheiro
  19. chumbar o quadro na parede
  20. bico da pena
  21. relógio (medidor de energia elétrica)
  22. fio de azeite (pouco de azeite)
  23. o avião aterrissou em alto-mar (aterrisar é em terra)
  24. o azulejo é branco (azulejo devia ser azul)
  25. sacar dinheiro no banco (banco não é saco)
  26. encaixar uma ideia na cabeça (cabeça não é caixa)
  27. miolo da questão
  28. ventre da terra
  29. tapete de relva
  30. laços matrimoniais

É comum catacreses referentes às partes do corpo:
  1. céu da boca
  2. pé da mesa
  3. pé-de-meia
  4. pé de cabra
  5. pé de laranja
  6. pé-de-moleque
  7. costas da cadeira
  8. braço da poltrona
  9. braço do rio
  10. cabeça de alho
  11. cabeça de prego
  12. olho do furacão
  13. dente de serrote
  14. dente do pente
  15. orelha do livro
  16. cabelo do milho
  17. coração da cidade
  18. pele do tomate
  19. barriga da perna
  20. boca do fogão
  21. boca da noite
  22. boca da garrafa
  23. boca do túnel
  24. mão-de-vaca
  25. olho d’água
  26. língua de fogo

A professora Thaís Nicoleti de Camargo explica como surge a catacrese:
Não faz muito tempo, um leitor escreveu para a Folha queixando-se do frequente uso feito pelo jornal do que ele considera uma impropriedade linguística, a saber, a expressão "casal gay". O motivo da indignação se fundamenta na definição que os dicionários trazem da palavra "casal": "par composto de macho e fêmea ou de homem e mulher". Assim, duas pessoas do mesmo sexo não poderiam, em tese, constituir um casal. Ocorre, entretanto, que duas pessoas do mesmo sexo podem conviver como um casal. E a diminuição do tabu em relação à homossexualidade torna essa situação mais corriqueira e, sobretudo, mais visível. Assim, surge a necessidade de um termo para dar conta dessa realidade. Não é preciso pensar muito para, automaticamente, por analogia com os pares heterossexuais, considerar um casal dois homossexuais que namorem ou vivam juntos. O adjetivo "gay" exprime a particularidade desse casal. Na falta de uma palavra específica, a língua põe à disposição dos seus usuários a possibilidade de estender o significado de uma palavra que guarde vínculo analógico com aquilo que se pretende nomear. Surge, então, uma espécie de metáfora "obrigatória", ou seja, uma palavra que nasce de um processo figurativo da linguagem, mas sem intenção poética. Esse procedimento, que é espontâneo, chama-se "catacrese", termo que significa, segundo a etimologia, "o emprego de uma palavra em sentido abusivo".
Othon Garcia também explica o surgimento da catacrese:
“Se não se dispõe de uma palavra própria para designar com exclusividade as colunas que sustentam o tampo da mesa, o que fazer? Criar um neologismo ou aproveitar palavra já existente que designe coisa semelhante, como a perna ou o pé que sustentam o corpo humano; daí a catacrese pé ou perna da mesa”.
Para Othon, a catacrese é uma metáfora morta, ou seja, já não se sente nenhum vestígio de inovação, é a metáfora tornada hábito linguístico, fora do âmbito estilístico. Essa seria uma diferença entre catacrese e metáfora. “Ambas (metáfora e catacrese) se baseiam numa relação de similaridade; mas a diferença entre ambas reside ainda no fato de que a catacrese, além de estender o sentido de uma palavra além do seu âmbito habitual, deixa de ser sentida como metáfora, dado o seu uso corrente.”
O jornal Mundo Jovem publicou este poema da autoria de Maria da Ajuda G. Laranjeiras.

Catacrese em Cordel

Catacrese é uma senhora
Com muita educação
Resolveu fazer uma festa
Lá na casa do botão.
Como tinha muitos amigos
Nem todos podia convidar
Os que ela mais gostava
Pra festa mandou chamar.

O início da festança
À boca da noite começou
E a maçã do rosto
Foi a primeira que chegou.

E logo foi sentando
No braço do sofá
Depois chegaram todos
Pé-de-meia, o último a chegar.

Boca de forno ficou triste
Porque não podia andar
De tanto ficar de boca aberta
Deu câimbra no maxilar.

Dente de alho ali num canto
Com ninguém conversava
Pois não tinha um perfume
Que o seu cheiro tirava.

A senhora perna da mesa
Muito triste resmungava
De uma cabeça de prego
Que seu pé machucava.

Céu da boca não achou graça
No meio de tanta gente
Quando foi tomar café
O danado estava quente.

Lá pelas tantas horas
Olho-d’água um susto levou
A asa da sua xícara
Sacudiu e levantou voo.

Menina do olho no final
Começou a cochilar
Mas tinha que partir
E de seus amigos separar.

Na saída pé de cabra
Provocou uma confusão
Deu um chute na batata
Da perna de seu irmão
Logo chegou o delegado
E levou todos pra prisão.

de Maria da Ajuda G. Laranjeiras
Araguaína - TO - por correio eletrônico
EXERCÍCIO SOBRE CATACRESE
01. Por que a catacrese é considerada uma metáfora morta?
02. Por que a expressão “embarcar no avião” é uma catacrese?
03. A expressão “embarcar numa canoa furada”, usada em sentido conotativo, é um exemplo de catacrese ou metáfora? Justifique.
04. Liste cinco exemplos de catacrese.
05.  Assinale o INcorreto:
a) A catacrese atende uma finalidade de uso, não de efeito expressivo.
b) A catacrese é uma metáfora estereotipada, ou seja, uma metáfora que perdeu seu caráter inovador.
c) A catacrese é uma figura de linguagem pouco frequente.
d) Pode a catacrese substituir um termo existente por este não ser tão de uso tão generalizado.



segunda-feira, 21 de março de 2011

ÁLVARES DE AZEVEDO: BIOGRAFIA E ATIVIDADES

Álvares de Azevedo

            “Sou o sonho de tua esperança. / Tua febre que nunca descansa, / O delírio que te há de matar!”, esses versos pertencem a Manuel Antônio Álvares de Azevedo. Ele nasceu em São Paulo no dia 12 de setembro de 1831, filho de advogado Ignácio Manuel e de Maria Luísa. Quando o pai diplomou-se, levou a família para morar no Rio de Janeiro. Aos três anos, Álvares deparou-se com a primeira morte na família: o irmãozinho. O bebê que ele tentava em vão despertar fê-lo cair em lágrimas quando sua mãe explicou-lhe que um anjinho o levara. O abalo levou o futuro poeta adoecer de “febre nervosa”, como era chamado os distúrbios psiquiátricos na época. Mais tarde, Álvares contrairia tuberculose e o resto de sua vida Álvares ficaria com saúde fragilizada. Por ser um menino adoentado, sua educação escolar foi ministrada até os nove anos de idade com professores particulares em sua própria casa. A partir dessa idade foi matriculado em regime de internato, no Colégio Stoll, cujo proprietário era o francês Monsieur Stoll. Como estudante era considerado brilhante, o primeiro da escola. Só não fazia sucesso em ginástica. Também estudou no Colégio D. Pedro II, onde foi aluno de Gonçalves de Magalhães, o introdutor do Romantismo no Brasil. Para dar continuidade à formação estudantil, Maneco, como era conhecido, foi sozinho para São Paulo cursar Direito na Faculdade do Largo de São Francisco. Na Faculdade, tornou-se amigo íntimo de Bernardo Guimarães e vários poetas. Uns dizem que sua vida nesse período foi tumultuada e boêmia e outros dizem que ela foi tranquila. Sua participação na Sociedade Epicureia, uma sociedade satanista secreta que promovia orgias, é algo contestado por seus biógrafos.
No quinto ano da faculdade, Álvares estava passando férias no Rio de Janeiro, quando confessou a um primo que todo ano morria um aluno do quinto ano da faculdade e ele achava que talvez pudesse ser o próximo. Não muitos dias após essa confissão, ele sofreu uma queda de um cavalo e fraturou a ilíaca a ponto de desenvolver um tumor que precisava ser retirado. Não existia anestesia na época e Maneco sobreviveu 45 dias até morrer nos braços de um dos irmãos em 25 de abril de 1852, num domingo de páscoa.
            A debilidade do organismo, a introspecção, a experiência da morte do irmão e de amigos da faculdade, além da forte influência do inglês Lord Byron e Musset em sua obra, tudo isso fez com que a morte fosse um tema obsessivo, constando, inclusive, nas cartas que escrevia para a mãe e para a irmã. A morte se tornou uma forma de fugir da realidade conturbada e do sentimento de impotência diante da vida. Ele se tornou, então o poeta mais representativo do spleen ou mal-do-século, estado de espírito depressivo dos poetas ultrarromânticos. Foi ele quem proferiu as orações fúnebres no enterro de dois de seus amigos. 
O desejo do amor é outra temática constante. Um amor sempre idealizado, no qual a mulher é uma virgem apenas desejada de longe, um anjo por quem o poeta suspira por viver e morrer. Apesar de seus versos tristes e mórbidos, ele ajudou a introduziu o humorismo na poesia brasileira, utilizando-se da ironia como recurso literário:
A lagartixa ao Sol ardente vive
E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida
Tu és o Sol e eu sou a lagartixa.
O patriotismo e saudade da infância também fazem parte da sua veia sentimental. Suas obras foram publicada após sua morte, pois em vida só havia publicado discursos e elogios a amigos falecidos no jornal da academia. O poeta também escreveu contos fantásticos (Noite na Taberna) e peça teatral (Macário) é o patrono da cadeira de número dois da Academia Brasileira de Letras.
ATIVIDADES SOBRE A POÉTICA DE ÁLVARES DE AZEVEDO

01. Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei...que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
(Álvares de Azevedo)

A característica do Romantismo mais evidente nesta quadra é:

a) o espiritualismo
b) o pessimismo
c) a idealização da mulher
d) o confessionalismo
e) a presença do sonho
 
02. Minh’alma é triste como a rola aflita
Que o bosque acorda desde o albor da aurora,
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.

 A estrofe apresentada revela uma situação caracteristicamente romântica. Aponte-a.

a) A natureza agride o poeta: neste mundo, não há amparo para os desenganos morosos.
b) A beleza do mundo não é suficiente para migrar a solidão do poeta.
c) O poeta atribui ao mundo exterior estados de espírito que o envolvem.
d) A morte, impregnando todos os seres e coisas, tira do poeta a alegria de viver.
e) O poeta recusa valer-se da natureza, que só lhe traz a sensação da morte.

3. (FUVEST)
Teu romantismo bebo, ó minha lua,
A teus raios divinos me abandono,
Torno-me vaporoso... e só de ver-te
Eu sinto os lábios meus se abrir de sono.
(Álvares de Azevedo, “Luar de verão”, Lira dos vinte anos)
Neste excerto, o eu-lírico parece aderir com intensidade aos temas de que fala, mas revela, de imediato, desinteresse e tédio. Essa atitude do eu-lírico manifesta a:

(A) ironia romântica.
(B) tendência romântica ao misticismo.
(C) melancolia romântica.
(D) aversão dos românticos à natureza.
(E) fuga romântica para o sonho.
4. (PUC-SP)

Oh! ter vinte anos sem gozar de leve
A ventura de uma alma de donzela!
E sem na vida ter sentido nunca
Na suave atração de um róseo corpo
Meus olhos turvos se fechar de gozo!
Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas
Passam tantas visões sobre meu peito!
Palor de febre meu semblante cobre,
Bate meu coração com tanto fogo!
Um doce nome os lábios meus suspiram,
Um nome de mulher... e vejo lânguida
No véu suave de amorosas sombras
Seminua, abatida, a mão no seio,
Perfumada visão romper a nuvem,
Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras
O alento fresco e leve como a vida
Passar delicioso... Que delírios!
Acordo palpitante... inda a procuro;
Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas
Banham meus olhos, e suspiro e gemo...
Imploro uma ilusão... tudo é silêncio!
Só o leito deserto, a sala muda!
Amorosa visão, mulher dos sonhos,
Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto!
Nunca virás iluminar meu peito
Com um raio de luz desses teus olhos?


Os versos acima integram a obra Lira dos Vinte Anos, de Álvares de Azevedo. Da leitura deles podemos depreender que o poema:
(A) ilustra a dificuldade de conciliar a ideia de amor com a de posse física.
(B) manifesta o desejo de amar e a realização amorosa se dá concretamente em imagens de sonho.
(C) concilia sonho e realidade e ambos se alimentam da presença sensual da mulher amada.
(D) espiritualiza a mulher e a apresenta em recatado pudor sob “véu suave de amorosas sombras”.
(E) revela sentimento de frustração provocado pelo medo de amar e pela recusa doentia e deliberada à entrega amorosa.

5. (UFOP) Leia com atenção o seguinte texto:
Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando
Negros olhos as pálpebras abrindo
Formas nuas no leito resvalando

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei, chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!

(AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. Porto Alegre: L& PM, 1998. p.190-191)
Agora assinale a alternativa incorreta.

(A) O poema ressalta uma situação bastante comum na estética romântica, qual seja o paradoxo da figura feminina, construída entre passividade e atividade.
(B) O poeta oscila entre a pura contemplação e a possibilidade de concretização da relação amorosa.
(C) Romanticamente o poema leva a crer que é através do sonho que existe a melhor oportunidade para a realização carnal do amor.
(D) É possível perceber uma certa antecipação da estética realista-naturalista na descrição do corpo da mulher.
(E) Como poema do Romantismo, o texto apresenta uma construção saudosista, voltada para o passado.

6. (UEL) O fragmento do poema abaixo pertence à segunda parte da obra Lira dos vinte anos, de Álvares de Azevedo. Leia-o, analise as afirmativas que o seguem e assinale a alternativa correta.

É ela! É ela! É ela! É ela!
É ela! É ela! – murmurei tremendo,
E o eco ao longe murmurou – é ela!
Eu a vi — minha fada aérea e pura –
A minha lavadeira na janela!
[...]
Esta noite eu ousei mais atrevido
Nas telhas que estalavam nos meus passos
Ir espiar seu venturoso sono,
Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!
[...]
Afastei a janela, entrei medroso:
Palpitava-lhe o seio adormecido...
Fui beijá-la... roubei do seio dela
Um bilhete que estava ali metido...
Oh! Decerto... (pensei) é doce página
Onde a alma derramou gentis amores;
São versos dela... que amanhã decerto
Ela me enviará cheios de flores...
[...]
É ela! é ela! – repeti tremendo;
Mas cantou nesse instante uma coruja...
Abri cioso a página secreta...
Oh! Meu Deus! era um rol de roupa suja!


(A) O tema da mulher idealizada é constante na obra de Álvares de Azevedo. No poema em questão, a imagem da virgem
sonhadora é simbolizada pela lavadeira, uma forma de denunciar os problemas sociais e, ao mesmo tempo, reportar a
imagem feminina ao modelo materno.
(B) No poema "É ela! É ela! É ela! É ela!", a musa eleita é uma lavadeira. Dizendo-se apaixonado, o eu-lírico a observa enquanto dorme e retira do seio da amada uma lista de roupa, que imaginara ser um bilhete de amor. Trata-se de uma forma melancólica de expressar a grandeza das relações humanas e representar a concretização do amor.
(C) O emprego de termos elevados em referência à lavadeira, tais como "fada aérea e pura", é um fator que reforça o riso por associar a lavadeira a uma musa inspiradora e exaltadora da paixão. Trata-se, portanto, de um poema de linha irônica e prosaica, que revela os valores morais daquela época.
(D) O poema, no conjunto das estrofes acima transcritas, revela tédio e melancolia. Esses sentimentos são reforçados pelo murmúrio do eu-lírico, "É ela! É ela!", ao visualizar sua amada.
(E) A figura da lavadeira no poema é a de uma mulher que não se pode possuir. Dessa maneira, o poema afasta a possibilidade de concretização do ato sexual, confirmando a idealização da mulher no período romântico.

7.(UFOP)

Namoro a cavalo

Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça
Que rege minha vida malfadada,
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcineia namorada.

Alugo (três mil réis) por uma tarde
Um cavalo de trote (que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
À minha namorada na janela...

Todo o meu ordenado vai-se em flores
E
em lindas folhas de papel bordado,
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
Algum verso bonito... mas furtado.

Morro pela menina, junto dela
Nem ouso suspirar de acanhamento...
Se ela quisesse eu acabava a história
Como em toda a Comédia – em casamento...

Ontem tinha chovido... Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
Mas lá vai senão quando uma carroça
Minhas roupas tafuis encheu de lama...

Eu não desanimei! Se Dom Quixote
No Rocinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada...

Mas eis que ao passar pelo sobrado,
Onde habita nas lojas minha bela,
Por ver-me tão lodoso ela irritada
Bateu-me sobre as ventas a janela...

O cavalo ignorante de namoros
Entredentes tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo
Com as pernas para o ar, sobre a calçada...

Dei ao diabo os namoros. Escovado
Meu chapéu que sofrera no pagode,
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.

Circunstância agravante. A calça inglesa
Rasgou-se no cair de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!...

(AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. Porto Alegre: L & PM, 1998. p. 190-191)

Em relação ao texto acima, todas as afirmativas são verdadeiras, exceto:
(A) O poema desfaz a sublimidade da relação amorosa, acentuando aspectos vulgares e/ou grotescos.
(B) O envolvimento do poeta com a situação narrada não lhe permite qualquer tentativa de autocrítica.
(C) O discurso poético explicita uma espécie de investimento frustrado, através do tratamento dado ao tema romântico.
(D) A ironia é construída pelo distanciamento da voz poética, ou seja, pelo jogo entre presente e passado.
(E) Há uma dissonância entre o discurso romântico-sentimental e o tom jocoso que a linguagem assume.



GABARITO:

01.   C
02.   C
03.   A
04.   A
05.   E
06.   C
07.   B

sexta-feira, 18 de março de 2011

REFLEXÕES SOBRE O ADJETIVO

 REFLEXÕES SOBRE O ADJETIVO

Para Carmen Javaloyes, a principal diferença formal entre substantivo e adjetivo é que este não admite artigo, mas admite grau. Dessa forma, em “A bela noiva não conteve as lágrimas”, o artigo definido que antecede o adjetivo bela, refere-se ao termo “noiva”,  não ao termo “bela”. E ele está no feminino porque o adjetivo é dependente do substantivo, por isso concorda com ele. Obviamente o adjetivo também pode ser substantivado, o que ocorre na frase de José de Alencar: “Tem nas faces o branco da areia”. Note que nesse caso, o artigo realmente refere-se a “branco” porque tal palavra está funcionando como substantivo.
Por outro lado, assim como os substantivos, os adjetivos admitem grau. Poderíamos destacar a beleza da noiva dizendo “A belíssima noiva não conteve as lágrimas”. Estaríamos elevando essa beleza ao grau máximo, o chamado superlativo absoluto sintético. Por que sintético? Porque haveria uma outra forma de destacar sua beleza: “A noiva, que estava muito bela, não conteve as lágrimas”. Estaríamos usando agora uma expressão (“muito bela”) para dar conta do mesmo sentido (muito bela = belíssima). Todavia, nem todo adjetivo admite grau. De outro modo, adianta dizer que alguém está “mortíssimo”, “muito morto”, “menos morto”? ou está morto ou não está. A não ser que se esteja usando a linguagem literariamente, uma vez que nesta, as normais habituais podem ser abolidas em favor do estilo.
Carmem Javaloyes destaca a importância da posição do adjetivo, explicando que o adjetivo anteposto ao substantivo vai insistir nas qualidades do substantivo, ou seja, vai realçar uma de suas qualidades. Assim em “refrescante bebida”, das muitas qualidades que possui uma bebida ( doce, cítrica, de certa cor...) se fez referência a apenas uma delas. Já o adjetivo posposto ao substantivo, realça a qualidade apenas de forma acidental, não de forma essencial ( “bebida refrescante”).  

Refrescante bebida
Bebida refrescante  

Observe que quando anteposto ao substantivo, o adjetivo chama atenção para si mesmo, realçando a qualidade da bebida.  Posposto, o substantivo é quem governa a atenção da frase. Nos dois casos, entretanto, a função do adjetivo é a mesma: complementar o substantivo. Mas para um escritor, é de fundamental importância levar essas nuanças em consideração, pois a mudança na ordem do adjetivo faz toda a diferença.

Às vezes mudar a posição do adjetivo vai além do realce aos atributos dos seres. A mudança pode acarretar novos sentidos à frase. É o caso das frases:
Amigo grande =  pessoa de grande estatura.
Grande amigo =  amigo muito próximo e importante.
Amigo caro = oneroso
Caro amigo = querido amigo
Amigo pobre = sem condições financeiras
Pobre amigo = coitado

Além do superlativo, o adjetivo possui grau comparativo. Os comparativos de tipo sintático são:
Superioridade: mais  + adjetivo  + que ( ...mais tímido que...)
Inferioridade: menos + adjetivo + que ( ...menos tímido que ...)
Igualdade: tão + adjetivo + quanto ( tão tímido quanto ...)

Carmen Javaloyes desaconselha o uso literário do grau comparativo: “O emprego desta forma com intenção literária demonstra um conhecimento de língua poética tão pobre como uma brincadeira de criança”.
Independentemente do grau, Carmem javloyes lembra que o abuso no emprego do adjetivo compromete estilisticamente texto.  Machado de Assis, o mestre de nossas letras, sabia disso por isso falou: “Os adjetivos passam, os substantivos ficam”.

Só para lembrar:

A gramática tradicional classifica os adjetivos de várias formas.

EXPLICATIVO - exprime qualidade própria do ser. Por exemplo, neve fria.
RESTRITIVO - exprime qualidade que não é própria do ser. Ex: fruta madura.
PRIMITIVO - não vem de outra palavra portuguesa. Por exemplo, bom e mau.
DERIVADO - tem origem em outra palavra portuguesa. Por exemplo, bondoso
SIMPLES - formado de um só radical. Por exemplo, brasileiro.
COMPOSTO - formado de mais de um radical. Por exemplo, franco-brasileiro.
PÁTRIO - é o adjetivo que indica a naturalidade ou a nacionalidade do ser. Por exemplo, brasileiro, cambuiense, etc.

E Mais Grande, Mais Bom e Mais Mau a língua só aceita quando se comparam qualidades de um mesmo ser:
Márcia é mais grande que pequena.
 José é mais bom do que mau